Revista Nova Escola: Edição 232 - maio/2010
Todos de olho na África
Com a Copa do Mundo, as atenções se voltam para o continente que sediará o evento. É uma ótima oportunidade para você apresentar à turma uma visão mais abrangente sobre a região, que tem outros pólos de desenvolvimento, além da África do Sul.
Geografia: Uma região cada vez mais urbana
MORADIAS PRECÁRIAS Em Nairóbi, no Quênia, 1 milhão de pessoas vivem em Kibera, a maior favela da África.
Foto: Uriel Sinai/Getty Images
A etimologia da palavra África remete a termos como "poeira, ensolarado, terreno longe do frio e caverna". Curiosamente, todos de alguma forma estão relacionados às representações que temos sobre as paisagens inóspitas e selvagens e o clima quente da região.
A força dessas imagens tem razão de ser: os desertos do Saara, do Namibe, de Calaári e o que cobre o Corno da África, além das florestas guineenses e congolesas, ocupam metade do território africano.
Um erro comum, no entanto, é resumir o continente a isso.
A África vive um processo de urbanização iniciado na década de 1950. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o consumo de matérias-primas e combustíveis fósseis aumentou e o continente passou a exportá-los A infraestrutura criada para suprir essa demanda e escoar os produtos concentravase nas maiores cidades e, naquela época, ainda era bastante precária. Nas décadas seguintes, diversos países conquistaram a sua independência e se integraram à nova ordem econômica vigente, o que resultou no crescimento de muitas regiões.
A queda do muro de Berlim, em 1989, também influiu nessa transformação. Com a supremacia do modelo capitalista e a posterior globalização, as cidades africanas passaram a se desenvolver cada vez mais.
A população rural começou a migrar em busca de melhores oportunidades de emprego e ascensão social. Botsuana, por exemplo, concentrava 21% da população nas cidades em 1990.
Dados de 2007, divulgados este ano, mostram que essa porcentagem subiu para 60%.
Economia: Petróleo e minério são os destaques
RESERVAS NATURAIS Maior exportador de petróleo do continente, Angola apresentou um salto econômico. Foto: Jan Berghuis Terschelling/Getty Images
A África não pode mais ser vista como um continente absolutamente miserável.
Ao lado de muitos países atrasados economicamente, alguns se destacam: Angola, Nigéria, Guiné Equatorial, Chade, Camarões, República Democrática do Congo e Congo.
Exportadores de petróleo e minérios, eles fizeram com que, desde os anos 2000, o Produto Interno Bruto (PIB) africano registrasse um crescimento anual médio de 5%.
A importância do continente é estratégica.
Além de possuir um terço do urânio mundial, metade do ouro, dois terços dos diamantes e 10% das reservas estimadas de petróleo, ele tem uma localização privilegiada com acesso aos oceanos Atlântico e Índico.
A mudança de patamar das nações que sobressaem se deve, sobretudo, às recentes relações comerciais estabelecidas com os países mais ricos.
Até os anos 1960, muitas nações africanas ainda eram colônias e tinham uma economia baseada em transações comerciais internacionais, na maioria das vezes desfavoráveis.
Com os movimentos de independência, elas se tornaram protagonistas de seus próprios processos políticos e econômicos e passaram a negociar suas riquezas em condições mais vantajosas.
Assim, foi possível, por exemplo, desenvolver tecnologias para a extração de minérios e petróleo por meio de parcerias com investimentos externos ou de empréstimos tomados de organismos internacionais.
Foi exatamente essa a conjuntura que possibilitou o salto econômico de Angola.
O país se tornou o maior exportador de petróleo do continente depois de ter passado por 40 anos em guerra civil - que matou cerca de 1 milhão de pessoas e só acabou em 2002.
Em 1990, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) angolano estava em 0,143, numa escala de zero a 1 (em que 1 representa o bem-estar máximo).
Hoje, está em 0,561.
"O próximo desafio do país deve ser investir na diversificação da economia para que não fique sempre à mercê das cotações internacionais do petróleo", afirma Jose Flavio Sombra Saraiva, docente do Departamento de Relações Internacionais da UnB.
Fonte: Revista Nova Escola nº 232 - maio/2010